02 dezembro 2013

Saúde: Em Goiana, estrutura de postos ainda é desafio meses após 'Mais Médicos'

Chegada de primeiros médicos cubanos completa 3 meses neste domingo. Estado conta atualmente com 196 profissionais formados no exterior.

A chegada do primeiro grupo de médicos cubanos ao Brasil para compor o programa ‘Mais Médicos’ completa três meses neste domingo (24). Junto a outros profissionais formados no exterior, o grupo veio ajudar a sanar o problema da falta desses profissionais em unidades de atenção básica. No entanto, ao passo que a falta de atendimento nos Postos de Saúde da Família vem sendo sanada aos poucos, os desafios em solucionar os entraves na infraestrutura ainda permanecem.

Atualmente, Pernambuco conta com 196 profissionais formados no exterior participando do programa em 71 municípios, além de outros 184 que devem começar a trabalhar a partir de dezembro. Dados da Organização Mundial da Saúde apontam que o estado conta com menos de dois médicos para cada mil habitantes, enquanto o ideal seria 2,7.

O município de Goiana recebeu cinco médicos através do programa federal e elabora projetos para reformar e adequar os postos de saúde. A previsão é de que, nos próximos anos, sejam reformadas 16 unidades, outras sete devem ser ampliadas e três novas construídas. “Temos alguns postos tradicionais que estamos adequando ao projeto de saúde da família e outros que tinham apenas uma equipe, aumentando”, explica o secretário de Saúde da cidade, Manassés de Lima.

A unidade do Gambá, na estrada que da acesso à Praia de Ponta de Pedras, é uma das que passa por ampliação e vai abrigar duas equipes de Saúde da Família. Atualmente, o posto atende também a comunidade do Carrapicho, que teve a equipe desativada há alguns anos, mas vai ganhar uma nova unidade até dezembro, já adequada aos padrões de acessibilidade, com sala para curativos, vacina, nebulização, entre outros itens. A verba para as reformas faz parte do ‘Requalifica’, projeto do Ministério da Saúde atrelado ao programa Mais Médicos, que obriga as prefeituras a investirem também na infraestrutura.

Moradora da comunidade do Carrapicho, a professora Lidiane de Souza espera que o novo posto, que vai contar com o médico colombiano Ricardo Di Zappoli, seja inaugurado logo. Enquanto a unidade não fica pronta, o médico está auxiliando a equipe do Gambá. “A situação aqui é bem precária e a população muito humilde. Nem todo mundo tem dinheiro para pegar o ônibus e ir até o Gambá para ser atendido. Mesmo lá, não tinha médico sempre. A população começa a não procurar médico, vai acumulando problemas de saúde porque cansa de ir até o posto e não encontrar atendimento”, conta a professora.

Desafios
Em Cuba, os médicos costumam ter sempre o paciente à direita da mesa, diferente do Brasil, onde o atendimento é feito, normalmente, de frente. A "tradição" visa facilitar o aferimento da pressão e também cria uma proximidade maior entre paciente e médico. O cubano Melquíades Solis Hernandez é um dos quatro estrangeiros que atuam em Igarassu. O posto em que trabalha, na Vila Saramandaia, funciona em uma casa alugada e a pequena sala que tem para atender os pacientes não permite o costume adquirido no país natal.

“É incômodo falar com um paciente com uma mesa no meio, cria uma barreira”, diz Melquíades.Integrante do primeiro grupo de médicos estrangeiros que chegou ao país por meio do programa 'Mais Médicos', o colombiano Ricardo Di Zappola trocou, em agosto, a Espanha pelo Brasil. Morando em Goiana, aguarda ansioso pela mudança da família no final de dezembro. “A falta dos filhos é maior até que da esposa, só quem é pai entende”, conta.

Conseguir uma casa na cidade, explica, não tem sido tarefa fácil. Com o crescimento do município, localizado na Mata Norte, o preço do aluguel vem subindo. “É muito complicado mesmo. Admito que meu tempo livre tem sido todo para organizar as coisas para a vinda da minha família, não resta muito mais o que fazer. Estou começando uma vida do zero aqui. Goiana ainda precisa investir muito em infraestrutura para receber não os médicos, mas todas as pessoas que estão mudando para cá”, pontua Ricardo.

Ele conta que a troca de país aconteceu devido, principalmente, à crise espanhola. Na Europa, Ricardo dividia-se em dois empregos, trabalhando no setor de atenção básica. Ao perder um, começou a se preocupar. Ao saber da oportunidade no Brasil, o pai dele telefonou da Colômbia contando sobre a oportunidade. “Entrei no site do 'Mais Médicos', mas sem muita fé. Eles iam pedindo os documentos, eu mandando. Quando percebi, tinham chegado as passagens e eu fiquei sem saber o que fazer, ainda tinha meu emprego lá”, recorda.

Em uma semana, Ricardo tomou a decisão e veio para o Brasil, mesmo sem falar português. “No começo, eu tinha mais medo. Português se aprende falando, já consigo me comunicar”, explica. O trabalho, com uma estrutura muito diferente da que tinha, não o preocupa, embora acredite que o Brasil precisa investir mais no sistema de saúde. “As pessoas não se sentem acolhidas pelo sistema de saúde, muitas pessoas ficam doentes e não procuram o médico”, conclui.

Assim como Goiana, Igarassu está em processo de reforma e adequação de unidades, como a Agamenon II, onde a médica cubana Marlen De La Rosa Piloto está trabalhando. Enquanto o prédio oficial passa por obras, uma casa alugada em uma rua próxima serve de posto improvisado. A recepção fica na sala do imóvel.

Igarassu conta atualmente com 25 postos de saúde da família, sendo que um já foi reformado, três passam por ampliação e seis devem ser reformados no próximo ano. Além disso, a expectativa é de construir, em 2014, mais dois postos.

O Recife também pretende construir novas unidades e reformar aquelas que precisam ser adaptadas nos próximos anos. Porém, a capital ainda enfrenta mais um desafio - encontrar casas ou terrenos para que possam ser construídos os postos que se adequem às exigências de uma Unidade de Saúde da Família em um lugar próximo a unidade já existente, para que a população também não perca a referência.

Na USF da Mustardinha, por exemplo, o posto funciona em uma casa alugada, com a placa de sede provisória, há oito anos. A unidade tem todas as alas necessárias, mas enfrenta algumas restrições. O corredor do andar térreo é estreito, contando com portas sanfonadas, enquanto os consultórios ficam localizados no segundo andar – para atender cadeirantes, os médicos precisam descer.

G1
 
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