15 dezembro 2017

Jeep em Goiana: A primeira planta carbono neutro da América Latina e o desenvolvimento da região

Por Victor Vasques/InovaSocial

A convite da Jeep e FCA – Fiat Chrysler Automobiles, o InovaSocial desembarcou na cidade de Goiana, município do estado de Pernambuco, para conhecer a primeira planta carbono neutro do setor automotivo na América Latina e participar do Circuito Jeep de Sustentabilidade, que detalha o lado socioambiental da fábrica mais moderna do grupo.
Para quem está acostumado com visitas guiadas em fábricas automotivas (ou já teve oportunidade de conhecer apenas uma), sabe que sempre existe aquele discurso do “a nossa fábrica é a mais sustentável da região” ou “nosso lixo é todo reciclado”, mas a FCA levou a fábrica da Jeep a outro patamar. Não é só por ser a primeira carbono neutro do mercado latino americano, mas, porque, pela primeira vez, vi o real impacto positivo de um complexo fabril daquele tamanho.
No início tudo era cana e fez-se uma fábrica

Goiana é um município pernambucano com pouco mais de 80 mil habitantes, PIB de 20 mil per capita e localizado em uma região tradicional e dominada pela monocultura da cana de açúcar. Para quem não sabe, a plantação de cana tem um impacto terrível no meio ambiente. Além de exigir muito do solo, a queima durante a colheita gera altos índices de gás carbônico. Ou seja, você praticamente destrói a fauna e flora de uma região, quando opta pelo cultivo.
É nesse ponto que a Jeep/FCA tem um dos projetos mais interessantes em Goiana. Quando a fábrica foi montada por lá, a marca decidiu entender qual era o bioma original da região e como era possível resgatá-lo. Assim nascia o Biodiversidade Jeep, um projeto de resgate da mata atlântica e que tem como meta, até 2024, plantar mais de 208 mil mudas nativas na região.
Você deve estar se perguntando porquê a Jeep fez isso. Durante toda a visita, os representantes da empresa fizeram questão de deixar claro que não existia nenhuma exigência socioambiental ou lei brasileira que obrigasse a criação dos corredores ecológicos. A Jeep simplesmente entendeu (e assim deveria ser com todas as indústrias), que se quisesse ficar por ali, em uma região que já havia sofrido um enorme impacto, precisaria fazer algo. Do que adianta fazer uma fábrica com ar-condicionado, se do lado de fora é um deserto e, uma hora ou outra, você terá que sair.
Assim como existem consequências ruins em impactos ambientais, também existem as boas. Com a produção das mudas (289 espécies da mata atlântica, sendo 27 em extinção), a fábrica começou a também recuperar a fauna local. Segundo Cristiano Felix, gerente de meio ambiente, quando as câmeras da fábrica registraram uma jaguatirica perto dos viveiros de mudas, foi uma grande comemoração, mas a festa foi maior ainda ao perceberem que, na verdade, não era apenas uma, mas uma família dessa espécie de mamíferos.
Aliás, as câmeras da planta já registraram outros “moradores da região”, entre eles, coelhos, patos e répteis. Por isso a empresa teve que contratar uma equipe de biólogos e especialistas em animais silvestres. De acordo com Cristiano, a equipe é responsável por atuar quando o animal entra no perímetro fabril, ou seja, quando algum deles decide fazer uma visita na região interna da fábrica.
Se você ainda acha que o projeto é “pra inglês ver”, reforço que até mesmo eu, que estou acostumado em ver discursos de marketing e projetos “sustentáveis” fiquei surpreso com o esforço da Jeep em Goiana.
Mas a coisa não acaba aí… Depois da natureza, o homem

Como falei mais acima, Goiana tem 80 mil habitantes, ou seja, não faz sentido “importar” profissionais de outros estados. Mas para isso, a empresa automotiva teve que criar um projeto forte de gestão de pessoas, visto que muitos trabalhadores eram, até mesmo, ex-boias-frias. O resultado é a média de idade entre os colaboradores, atualmente de 29 anos e formada 100% por moradores da região. Aqui também vale ressaltar dois pontos interessantes que vi com os próprios olhos, a média entre os gestores é de 28 anos e a fábrica é repleta de mulheres. Um ponto importante é que não há nenhum caso registrado de assédio, mas são feitos acompanhamentos constantes. De novo, quem está acostumado com fábrica automotiva, sabe que é cultural a ausência de mulheres na linha de produção.
Outro projeto interessante da Jeep na região é o Rota do Saber, que visa qualificar gestores pedagógicos e professores de escolas públicas do Ensino Fundamental, pelo prazo de três anos. A ideia é que A partir do aprendizado acumulado em três anos, o município terá condições de transformar o programa em política pública. Coincidência ou não, segundo o Muove, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) da região só tem aumentado nos últimos 3 ciclos. Igarassu, outra cidade de Pernambuco, foi o primeiro município a receber o programa em 2015. As mudanças no dia a dia das escolas já refletiram no Ideb do município. Em 2013, o indicador do Ensino Fundamental 2 (5º ao 9º ano) era 3,9, passando para 4,2 em 2015, mostrando uma evolução de 25%.

Em resumo, a fábrica de Goiana não é só uma das mais moderna, mas também uma das mais humanas que já vi até hoje. É engrandecedor ver que “ser sustentável” na indústria automotiva dá para ir além de uma coleta seletiva ou reciclar a água usada no processo. Coisas que a Jeep/FCA também faz em Goiana, mas aí é papo para outro texto.
 
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