15 dezembro 2014

Música: O novo som que nasce na Zona da Mata Norte

As oficinas de Sid Batera reúnem hoje 20 meninos. Eles formam a nova geração musical do município de 13 mil habitantes

As baquetas penduradas na bermuda da farda escolar revelam para onde Kauan Silva, 10 anos, vai quando a sirene da Escola Municipal Paulo Freire indica o fim das aulas. Todos os dias, ao passarem do portão da escola, ele e outros 19 meninos de Tracunhaém, Mata Norte do estado, têm o mesmo destino: as oficinas de bateria na casa do músico e produtor cultural Sidclei Marcelino, o Sid Batera. As aulas gratuitas, oferecidas desde 2003, formam uma nova geração musical no município e são opção para os filhos de cortadores de cana e artesãos do barro.

Sem cobrar mensalidade, a única exigência do professor de bateria é que os aprendizes estejam frequentando a escola regular. “Quando o pai chega para colocar o filho na oficina pergunto se a criança estuda. Só aceito se ela não trabalhar e for assídua tanto nas minhas aulas como na escola”, ressalta Sid.

De segunda a sexta-feira, das 17h às 18h40, os “meninos da bateria” batem ponto na casa do tutor. Uma chamada nominal é feita no início da oficina. Uma vez por mês, os pais são convocados para uma reunião de acompanhamento da evolução dos filhos.

As lições musicais misturam o contemporâneo com o tradicional. As aulas de bateria são alternadas com o ensino de cultura popular. “Começamos com a pegada mais pesada da bateria. No dia seguinte, resgatamos nossas origens e trabalhamos outras percussões, como a alfaia e o surdo, ressaltando o contexto histórico do maracatu e do boi”, explica o músico. “Eu nunca tinha escutado rock e nem sabia tocar. Quero ser baterista quando crescer, mas também amo o maracatu”, revela Kauan.

Novo som
O som da bateria era pouco conhecido quando Sid começou a ensinar as crianças a batucar, há 11 anos. “Nossa tradição é de maracatu rural. Quando cheguei mostrando a bateria, houve resistência. Com o tempo, porém, os adultos perceberam como as crianças evoluíam”, lembra Sid. “As opções de lazer na cidade são restritas, e as oficinas fazem muito bem ao meu filho, que tem se dedicado mais à escola por causa da música”, destaca a costureira Alcineide Carneiro, 41, mãe de Kauan. “Antes, as crianças tinham basicamente três opções: cortar cana, ser artesão ou trabalhar para a prefeitura. Hoje, muitos dizem querer ser músicos. Essa é a maior recompensa”, completa o músico.

DiariodePernambuco
 
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