08 novembro 2017

Infância: Crianças menores de 11 anos não devem ter o próprio celular, diz especialista

Daniel Becker, pediatra, diz que uso de aparelhos por pais e mães também é ameaça para a infância

A cena de bebês ou crianças muito pequenas interagindo com celulares e outros tipos de telas é tão real quanto preocupante. Mas o uso desequilibrado dos aparelhos por parte dos pais dessas crianças também precisa ser cada vez mais debatido. Quem diz é o médico pediatra Daniel Becker, professor do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro e um dos criadores do programa Saúde da Família. Segundo o especialista, pesquisas apontam que o uso do celular por crianças atrapalha o desenvolvimento da linguagem. No caso dos pais, tornam-se pessoas pouco afetivas e até mesmo agressivas com os filhos pequenos. O médico fez palestra nesta manhã no IIV Simpósio Internacional de Desenvolvimento da Primeira Infância, em Fortaleza, que este ano debateu o tema “Práticas efetivas para uma política integrada”, promovido pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, de São Paulo.

Na opinião do especialista, crianças de até onze anos não deveriam ter o próprio celular. Poderiam ter acesso somente ao aparelho dos pais e sempre de forma monitorada pelos adultos. “Antes a recomendação oficial da pediatria internacional era de que crianças até dois anos não deveriam ter qualquer contato com celular ou outros tipos de telas. Hoje isso está flexibilizado e recomenda-se até meia hora de acesso, mas com interação dos adultos. A tela não traz benefícios e atrasa a aquisição da linguagem, a coisa mais importante no desenvolvimento humano. A linguagem nos diferencia dos outros animais. É essencial para a evolução. Aprendemos a falar e a pensar na interação com o outro e isso não acontece com o aparelho, por mais que seja até mesmo um vídeo”, reflete.

O pediatra, no entanto, reconhece o caminho sem volta da tecnologia e aponta algumas dicas para lidar com o aparelho celular ou TV, por exemplo. “É importante desligar o eletrônico na hora da refeição, pois é um momento de interação com a família. Outra dica é procurar passar o mesmo tempo que passou no aparelho celular no parque, por exemplo. Não permitir o uso de celular, isso vale para a Tv, no quarto e promover o uso perto dos adultos em um ambiente como a sala, sempre em monitoração. São antídotos para uma realidade de nosso tempo. Não podemos proibir, mas moderar”, ensina.

A tela afasta a convivência e o direito de brincar. E esse é o grande perigo, insiste Daniel Becker. Uma escola no Rio de Janeiro, por exemplo, proibiu os alunos de correrem no pátio na hora do recreio. “No lugar de brincarem, as crianças foram usar o WhatsApp”, destacou o médico. E os adultos, diz o pediatra, precisam estar conscientes dessa situação. “O exercício do cuidado com os filhos também fica comprometido, o que chamamos de parentalidade. Os pais que usam muito celular costumam ficar desatentos, irritados, agressivos e até pouco afetivos. A grande ameaça para a infância é o uso dos celulares pelos pais”, alerta.

 
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