24 novembro 2015

Economia: Zona da Mata Norte reacende confiança na cana-de-açúcar, mas ainda amarga preocupações sociais

O otimismo de uma economia tradicional que se renova em contraste com as já conhecidas dívidas sociais acumuladas pela cana-de-açúcar. Na Zona da Mata pernambucana, o setor sucroenergético – atividade agrícola mais estruturada da região – esforça-se pela reabertura de usinas e pelo crescimento do etanol como opção à gasolina, enquanto convive com elevados índices de pobreza e de analfabetismo entre os trabalhadores rurais.

Após registrar seguidas quedas nos lucros desde 2008, a economia canavieira no Estado vislumbra mais prosperidade a partir deste ano. Uma parcela da confiança em dias melhores surge da reativação das usinas Pumaty, em Joaquim Nabuco (Mata Sul), e Cruangi, em Timbaúba (Mata Norte). Juntos, esses estabelecimentos devem empregar 12 mil pessoas e fornecer 15% do álcool hidratado produzido em Pernambuco na próxima safra, segundo o Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar).

As usinas estavam em recuperação judicial – procedimento adotado no momento em que uma empresa perde a capacidade de pagar suas dívidas -, quando foram arrendadas por cooperativas de cultivadores de cana. Uma parte dos lucros quita compromissos com antigos credores, e o restante é dividido entre os 1.600 produtores cooperados, sendo 96% deles pequenos fornecedores que cultivam em regime familiar.

Em atividade desde a última colheita, a Usina Pumaty recebeu investimentos de R$ 10 milhões e faturou R$ 50 milhões na primeira moagem. Segundo o presidente do Sindicato dos Cultivadores de Cana de Pernambuco (Sindicape), Gerson Carneiro Leão, a reabertura do estabelecimento em Joaquim Nabuco atende a uma demanda dos produtores locais, cuja safra tinha de ser processada em Alagoas ou na Paraíba. “Muitos fornecedores estavam quebrando, principalmente os pequenos”, aponta.

Em Timbaúba, após três anos de paralisação, a Usina Cruangi retomou o funcionamento ao custo de R$ 3,5 milhões, e projeta faturamento de R$ 35 milhões para a primeira moagem. Presidente da Associação dos Fornecedores de Cana de Pernambuco (AFCP), Alexandre Lima enxerga melhoras no cenário regional. “Os investimentos viabilizam empregos e estimulam a produção local de combustíveis renováveis”, avalia.

A reativação acontece no momento em que o mercado de combustíveis levanta as projeções para o álcool hidratado – também conhecido como etanol. O dólar em alta encarece os custos de produção da Petrobras, já em dificuldades financeiras, e deve forçar a estatal a elevar o preço da gasolina. Com isso, crescem a competitividade do álcool nos postos e o faturamento dos produtores. “O pior momento passou, e o etanol pode voltar”, acredita o presidente do Sindaçúcar, Renato Cunha.

Pagar menos impostos também pode ajudar o setor a vencer a concorrência com a gasolina. A partir do próximo ano, em virtude do ajuste fiscal promovido pelo Governo do Estado e aprovado na Assembleia Legislativa em setembro, o ICMS sobre o álcool passa a ser de 23%, contra 29% do combustível fóssil. Produtores do Estado já contam com benefício de 12% no recolhimento do imposto, e usinas arrendadas por cooperativas – como Pumaty e Cruangi – ganharão mais 6,5% de crédito, também em virtude de leis aprovadas na Alepe.

DESAFIOS SOCIAIS - A economia sucroenergética é responsável por 20% dos empregos formais na agropecuária pernambucana, segundo dados do Censo 2010 organizados pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Pernambuco (Fetape). Por ser menos mecanizado, o plantio da cana-de-açúcar no Nordeste emprega quase seis pessoas a cada mil toneladas, contra um empregado a cada mil toneladas no Sudeste.

Apesar de ser fonte de ocupação no espaço rural, a atividade não é suficiente para promover avanços sociais nas regiões onde se desenvolve. Na Zona Mata, 20% da população do campo vive em situação de extrema pobreza, e um em cada cinco adultos é analfabeto. A situação inclusive dificulta o acesso a oportunidades geradas na indústria local. Prova disso é que, segundo o Sindicape, 40% dos novos postos gerados na Usina Pumaty foram ocupados por trabalhadores demitidos após o término das obras no Complexo Industrial Portuário de Suape.

Vulnerável às oscilações de preços no mercado internacional, o setor tem menos capacidade de reinvestir os lucros e menor tendência a correr riscos, característica que, para o economista da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) João Policarpo Lima, freia a inovação e geração de empregos mais duradouros na atividade. “Além disso, a renda é muito concentrada, são poucos os estí- mulos ao trabalhador e o serviço é penoso. É um segmento historicamente difícil”, analisa o professor.

Assessoria
 
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