10 junho 2013

Consumo: A criação é quase tudo

Quem vê um carro novo na rua não imagina o quanto foi gasto no seu design. É muito mais dinheiro do que na produção

O que você diria se alguém falasse que seu carro, aquele de todos os dias, custou mais ou menos R$ 700 milhões? A cifra parece absurda. Mas não é o preço de venda, com entrada e o resto parcelado. É o investimento médio de uma montadora para transformar rabiscos no papel, através de muita pesquisa e desenvolvimento, em um verdadeiro projeto de carro, com design e todo o detalhamento, da lataria a peças eletrônicas. Os custos dessa indústria são tão altos que R$ 700 milhões é só a média. O gasto para desenvolver carrões de poucos privilegiados, como Ferrari, Mercedes ou Porsche, facilmente passa de US$ 1 bilhão.

A fábrica dos italianos da Fiat em Goiana é um exemplo de quanto custa criar novos modelos. Dela sairão três automóveis inéditos nas concessionárias da montadora. Para isso, dos R$ 4 bilhões anunciados pelo grupo para Pernambuco, mais de R$ 2 bilhões vão apenas para a criação dos três modelos produzidos no Estado.

Criar uma fábrica e ao mesmo tempo novos carros é um esforço monumental, que envolve muita gente em continentes diferentes. No caso da Fiat em Goiana, por exemplo, são funcionários do braço brasileiro do grupo, executivos da sede na Itália, americanos da construtora Wallbridge, envolvida nas obras, e fornecedores japoneses das prensas, gigantescas máquinas que serão o coração da fábrica. São engenheiros, designers, executivos de negócios, operários, motoristas, de uma lista colossal de pessoas.

“Tudo começa pelo design do veículo. É o mais importante. A partir daí são definidas as dimensões do carro, que é detalhado mais e mais. O tempo todo o avanço do projeto é compartilhado com fornecedores de máquinas, ferramental e peças, além do pessoal de engenharia da planta industrial. A questão é colaboração, um desafio de reduzir cada vez mais o prazo para um novo carro chegar ao mercado”, comenta Rüdiger Leutz, diretor geral da Porsche Consulting Brasil, uma das quatro subsidiárias da divisão de consultoria do grupo alemão Porsche AG.

Hoje a Porsche Consulting trabalha em projetos de novas fábricas de três montadoras no Brasil, após o programa federal InovarAuto condicionar benefícios fiscais ao setor em troca de exigências como eficiência energética dos carros e nacionalização de partes.

O InovarAuto foi um dos motivos para a instalação da Fiat atrasar. As obras deveriam começar em abril de 2012, mas partiram em janeiro passado. Toda a indústria automotiva do País reduziu o passo à espera das regras do InovarAuto. O problema é que desenvolver um carro demora anos. E ajustes em um projeto exigem retrabalho em boa parte dos quase 4 mil componentes que um veículo pode ter.

“Para se desenvolver um carro novo das primeiras ideias até a produção, normalmente são 48 meses, um prazo que a indústria já considera curto. Hoje é comum equipes de pesquisa e engenheiros estarem o tempo todo buscando antecipar em 10 anos as futuras demandas”, complementa Rüdiger.

O executivo diz que, durante todo o processo de desenvolvimento e especialmente nas etapas finais, é comum as companhias fazerem “clínicas”, rodadas de pesquisa com clientes de determinada marca ou segmento de mercado. O saldo dessas opiniões pode deixar um carro mais baixo ou com visual mais agressivo, por exemplo. Antes de lançar o novo Uno, em 2010, a Fiat usou até antropólogos nas pesquisas com os consumidores.

“Entender o mercado é fundamental. Nos Estados Unidos, o consumidor prefere carrões grandes e confortáveis, com itens como suporte para bebidas. O brasileiro é muito mais sensível ao preço. Quer um carro barato, para usar no dia a dia, mas que também seja bonito, um desafio para a indústria automotiva. No Brasil, carro é sinônimo de status”, conta o diretor da Porsche. “O mercado brasileiro está buscando carros mais estilosos. É assim com empresas como Volkswagen e Fiat”, diz o executivo.

JC Online
 
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