25 fevereiro 2013

Economia: À espera dos empregos da Fiat

Com início das obras da fábrica, expectativa agora é pela contratação de 7 mil trabalhadores. Seleção caberá a instituições como Agência do Trabalho

O discreto início das obras civis da Fiat em Goiana, no Litoral Norte, deixa Pernambuco na iminência da esperada explosão de empregos do polo automotivo. O consórcio entre a paulista Construcap e a americana Wallbridge, escolhido para erguer a fábrica de automóveis, já começou os primeiros passos na construção da montadora, com a colocação de estacas na fundação da futura fábrica. A expectativa agora é pelo crescimento gradativo do número de operários contratados, até um pico de 7 mil trabalhadores.

Apesar de já haver até placa no terreno indicando a Construcap e a Wallbridge como responsáveis pelas obras, as construtoras e a Fiat por enquanto não estão se pronunciando sobre a construção. O motivo é que o contrato ainda será finalizado. Na próxima segunda-feira, o presidente do grupo italiano, Cledorvino Belini, estará no Recife, em um evento chamado Diálogos Capitais, da Revista Carta Capital. Espera-se um anúncio do executivo sobre a nova fase de obras.

De qualquer forma, o ideal é que os interessados a um emprego segurem a ansiedade. A Fiat e o governo avisam sempre: não haverá seleção de pessoal no canteiro de obras. O objetivo é evitar uma romaria desordenada para o local. A seleção de pessoal será direcionada para instituições como a Agência do Trabalho e a preferência será por moradores de Goiana e cidades próximas.

Mesmo assim, todos os dias, candidatos a emprego fazem plantão no canteiro de obras. Ansioso por uma das vagas, Carlos Lopes, 52 anos, na última quinta-feira saiu pela oitava vez de Casa Amarela, no Recife, em busca de um trabalho nas obras da montadora. “Desde janeiro venho aqui direto. Estou desempregado e tenho muita experiência no setor”, diz Carlos.

O desempregado aumenta a fila em frente ao canteiro da Construcap, que já fazia a terraplenagem da Fiat. A empresa também levou as obras civis, em consórcio com a Wallbridge, uma “fábrica de fábricas” com larga experiência na indústria automotiva.

A migração para a nova etapa já começou, embora as obras civis tenham atrasado bastante. Em janeiro de 2012, o governo corria para entregar as contrapartidas públicas para o investimento de R$ 4 bilhões do grupo italiano: a terraplenagem de 1.400 hectares e a capacitação de 6.782 pernambucanos para a construção. A partida das obras era aguardada para 16 de abril passado.

A terraplenagem custou R$ 81,9 milhões, está em etapa final pela Construcap e foi paga pelo Estado. Apesar de toda a correria ano passado, a única construção da Fiat no terreno veio a partir de setembro, quando contratou a pernambucana Quality para erguer um escritório de campo, um galpão com escritórios onde uma equipe da montadora será instalada para acompanhar a construção da fábrica.

Mesmo com a oferta de cursos, muita gente já veio de fora de Pernambuco para as obras. O operador de máquinas Claudemir de Lucena, 35 anos, chegou há 4 meses de Marechal Deodoro, em Alagoas, para trabalhar na terraplenagem. “Vou para onde a empresa mandar. Quando acabar aqui, sigo para outro canteiro de obras”, afirma Claudemir.

De acordo com o Estudo de Impacto Ambiental (EIA/Rima), serão 7.372 vagas, entre elas 1.571 de ajudantes, 1.458 de serventes e 1.148 de pedreiros.

Mas se é preciso capacitar gente local para as obras, imagine quando se pensa na operação do polo automotivo, que exigirá especialistas em eletromecânica, por exemplo? Para a fábrica da Fiat produzir 250 mil carros por ano em Pernambuco, precisará de 4.500 técnicos. Quando somados os 14 fornecedores instalados no mesmo terreno da montadora, o número de postos de trabalho – e de necessidade de pessoal formado e pronto para trabalhar – sobe para 12 mil.

Prefeituras, Estado, Fiat e instituições educacionais agora correm para emplacar os pernambucanos no funcionamento da fábrica, previsto para 2015. “Até agora, por incrível que pareça, os goianenses interessados em trabalhar no futuro polo tinham que ir para Recife ter aulas”, revela o presidente da Agência de Desenvolvimento de Goiana (AD Goiana), Francisco Lucchese Junior. Ele diz que o esforço da prefeitura agora é para conseguir espaços para que o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e Comercial (Senac) consigam oferecer aulas em Goiana.

“Queremos viabilizar espaços para o Senac e Senai. Fizemos um levantamento e a lista inclui ginásio municipal, escolas públicas e até o Convento do Carmo”, conta Lucchese Junior.

“É uma corrida contra o tempo para ceder esses espaços, que são muito específicos. Será preciso instalar laboratórios, por exemplo, salas que têm que ser fixas e de uso exclusivo. Não podem ser multiuso”, complementa o secretário de Desenvolvimento Econômico de Goiana, Carlos Botelho.

Senai e Senac trabalham juntos com o Instituto Federal de Pernambuco (IFPE), Universidade de Pernambuco (UPE) e outras entidades de educação e trabalho para montar um programa de qualificação de pessoal para formar 30 mil trabalhadores até 2015.

Para isso, a Fiat (que na verdade hoje é o grupo Fiat/Chrysler) levou uma delegação técnica para visitar duas fábricas da montadora na Itália e outra na Sérvia. Tudo para conhecer uma metodologia de produção chamada World Class Manufacturing (WCM), que mistura requisitos de qualidade, eficiência e segurança.

JC Online
 
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